Sunday, January 17, 2010

Vida medíocre.

Vida. Oh vida medíocre. Que de nada me valeste. Sem nada pedir, meu carinho recebeste. Tua solidão foi o meu premio, meu consolo, meu refugio, minha fortaleza, meu castelo, meu lar, minha princesa. Oh vida medíocre, o que será de mim sem você? E quando eu procurar sem saber? Quais respostas, se entregam ao viver? Enaltecer-me? De que? Pra que? Por quê? Para nada. Oh vida medíocre, que breve se acaba. Quanta ternura, eu gostava. Mas fostes sem perguntar se eu lhe amava. Vidinha medíocre, vidinha ponderada. Donde eu descobri que os diamantes, ah os diamantes, saem do nada!


Travastes uma batalha em silêncio. Chorastes, sofrestes, cadê teu prêmio? Tudo bem eu compreendo, teu silêncio, tua face, teu sorriso é um prêmio. Oh vida medíocre, que lar é este que habitas? Forças poéticas que se chocam nas pistas. Nas formalidades, nas brigas. Me englobe, oh vidinha medíocre, para que eu possa dizer: Sim eu faço parte, eu amo quem me abate. Sem nada lhe pedir em troca. Vida medíocre, vida que se enrosca. Quem podia já foi embora, só me resta à aurora. O presente do poeta, do vilarejo, quem te liberta? Tu me cativaste moça esperta.

Pobre do homem pobre, o que o futuro lhe reserva, o mundo ta do avesso. Quando rezo, quando peço. Deus está presente, sempre esteve. Fui eu que me mantive ausente, por solidão. Amor platônico, sim acredito, sim eu vivo. Caro amor platônico, quem diria, meu mais confiável amigo. Mas ela era tão bonita! Bonita como a vida!

ass.: Radamés

Originalmente publicado no extinto blog improloucunismo pós-româncomico em 4 de julho de 2007.
Francisco

No alto do monte ao lado da igrejinha, certa vez e por acaso, havia uma casinha afunilada, um cisco, e nela habitava um pequenino menino chamado Francisco.
Baixote e minguado, franzino e danado, corria alegremente na imensidão verde do pasto, seu sonho porem era alto.

Paredes gigantes, imensas colunas, janelas e portas agigantadas, cadernos, apagadores, mata-borrões, meninas engraçadas. Maravilha é aprender, monocórdias mesmices ditadas, sabedoria sussurrada, repassada, no pequeno imenso colégio.
O mundo não cabe num livro, se coubesse diria baixinho: Hei olha que belo, é o advento moderno, macrocosmo interno, exteriorizado sabiamente nas paginas de um caderno, a fronteira entre o céu e o inferno? Ser humano, mundo deveras, mundinho desumano.

Sua paixão contagia, suas noitadas, suas orgias, quem diria? Que o rei dos reis certo dia voltaria, de sandálias e túnica, barba e cabelos por fazer, caminhado chegaria calmamente até você, e com o semblante sereno iria dizer: Tu és digno, aquário, leão, sagitário, meu signo, de que importa o meu hino, na atual, hipnose intelectual onde se encontra o pequeno menino, o “Tisco”, onde habitaras tu? Menino Francisco

ass.: Radamés

Originalmente publicado em improloucunismo pós-româncomico em 6 de julho de 2007
A velha cidade


A cidade dos homens é a cidade dos heróis, subúrbios minados, soldados fardados, crêem todos em um só, uma só saída, uma só esperança, uma só vida, uma só poesia. Heróis que dão respaldo, heróis inalienáveis. Trágicas máximas da epopéia suburbana, a trágica ilusão de Francisco, que crescerá atrás da igrejinha, na casinha pequenina, na casinha esculpida na dor, almejada no interior, no intimo dos sonhos puros, olhos maus a chamam de barraco, olhos tristes demonstram cansaço, afinal o que és ó casinha feita de madeira e barro?

Anjos na noite, bairros em pecado, reis de outras etnias aqui são destronados, nobres humilhados, ilustres desconhecidos, viajantes escondidos, que se refugiam em marquises, em estradas de sonhos, profundos e belos, ricos castelos, guerreiros eternos, que não usam ternos, mas para sempre eternos, em humildes versos. Provas de dignidade, não dêem ouvidos, na cidade dos homens impera a insanidade, o ódio profano, a casta dos excluídos, a irmandade dos manos.

Fabriquem sonhos, mas por favor deixe-nos desfrutá-los, aqui somente se semeia frutos amargos, que de tempos em tempos, florescem gigantes e não as mesmas lagrimas, os rostos tristes, cabeças baixas. A tribo dos Franciscos marcha, em direção ao nada. Ninguém sacia a vontade de crescer, ninguém nos faz entender essa limitação do desfrutar, do amar, enfim do viver.

Originalemente publicado em 11 de junho de 2007 no extinto improloucunismo pós-româncomico

Thursday, December 17, 2009

HOBSBAWM, Eric J. A era dos impérios. In HOBSBAWM, Eric J. A era dos impérios. Traduzido por Sieni Maria Campos e Yolanda Steidel de Toledo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. p.87 à 125.


No terceiro capitulo de sua obra, Hobsbawm nos explica o porque de o período compreendido entre 1875 à 1914 é considerado a era dos impérios. Dentre os vários fatores abordados pelo autor, vale a pena destacar que nesse período o mundo testemunhou o maior numero de nações que seus dirigentes se auto-proclamavam imperadores.
Também é importante lembrar que a ordenação do mundo entre “adiantados e atrasados” torna-se nitidamente mais claro, apesar do processo de colonização ultramarina e porque não ultra-européia ser anterior ao século XIX. A esse respeito o autor nos revelará que a expressão imperialismo só aparecera na ultima década do século XIX.
O que de mais importante a obra nos traz é como essa ideologia expansionista irá dividir o mundo em zonas de controlo e zonas de influencia e que estas representaram toda a Oceania, toda a África e grande parte da Ásia. Podemos acrescentar a nossa linha de raciocínio que esta dominação é perpetuada por uma dúzia de países, entre eles destacam-se Grã Bretanha, França e Rússia, impérios que tem uma vasta zona de domínio. Outros países como Bélgica, Portugal e Holanda exercem certo domínio e participam dos processos de partilha, juntamente com o caso do imperialismo japonês na Ásia e Oceania. Além disso, não podemos nos esquecer do Continente Americano, que apesar de estar em sua grande maioria livre do colonialismo propriamente dito, sofre o intervencionismo da doutrina Moore, criada nos Estados Unidos da América e que prega o fim da intervenção européia na face ocidental do mundo, e que qualquer interferência na política na America só poderia sofrer a influencia do próprio EUA. Outra aspecto em que é preciso refletir é como as principais ideologias do período lidam com o fenômeno do imperialismo, para marxistas este é uma fase do capitalismo, para capitalistas este fato não tem relações diretas com o fenômeno.
Concluímos que o fenômeno imperialista é de importância capital para compreensão dos fatores que ao se acumularem explodem em 1914 e findaram o longo século XIX para fundar o breve e confuso século XX.

Friday, December 14, 2007

Tolstoi na Chechênia

Retornando para a Iasnaia Poliana, a sua tão famosa propriedade, Leon Tolstoi
deparou-se, à beira do atalho que tomara, com um exuberante cardo tártaro.
Atraído pela beleza da sua flor, cismou em querer arrancá-lo por inteiro. Puxou,
puxou, até que, num gesto mais vigoroso, o extraiu com raíz e tudo. Ufa! Que obra!
A teimosia da planta em desgrudar-se do chão fez com que, aos poucos, ele recor-
dasse a gente do Cáucaso. Quando jovem, ele servira lá como artilheiro, entre
1851-54, enfrentando a resistência do líder checheno Chamil, que se estendeu até
1859. Como o cardo tártaro que o desafiara, aqueles montanheses - os chechenos,
os inguches, os circassianos, os bats, os ossetianos, os azires e mais 50 outros tantos
grupos étnicos -, tradicionalmente, batiam-se até o fim contra qualquer tentativa de
remoção.
Entrando em casa, Tolstoi sentou-se na sua escrivaninha e, tomando a pena, deu-se
a narrar a fascinante história de Hadji Murat (um lendário personagem, um naib, um
misto de chefe clãnico e valentão foragido da lei, daquele canto perdido do sul da
Rússia).
Áspera, e com altíssimos picos pedregosos, cercados por incríveis despenhadeiros, a
cordilheira do Cáucaso (que liga os dois mares da Ásia Menor, o Cáspio e o Negro), é
uma das esquinas do mundo. Logo, uma torre de Babel. A confusão das falas que lá
impera é tamanha que os historiadores árabes chamaram-na de Jabal al-Alsine,
a "Montanha das línguas". Desde 1723 aquela exótica região começou a cair no
controle do Império Russo, quando Pedro, o Grande, venceu uma curta guerra
contra o xá da Pérsia. Uns anos antes desta vitória, o czar enviara para lá a missão
do Príncipe Volynsky, imaginando que dali, do Mar Cáspio (que a envolve pelo leste),
partia um rio em direcção à Índia, o que lhe abriria as portas do rico comércio com o
Oriente.
Morto logo em seguida à conquista, Pedro não viu nada dessa riqueza. Porém, no
século 19, os russo sentiram-se compensados. Ao redor de Baku, no atual Azerbaijão,
desde 1872, passaram a explorar um dos mais prodigiosos lençóis petrolíferos até
então descobertos. Foi a riqueza desse produto estratégico para a vida moderna, que
atraiu para lá, durante a invasão da URSS pelos nazistas, o Iº Exército Panzer do
General von Kleist, que ocupou a Chechênia em julho de 1942, chegando, com a
entusiasmada adesão dos habitantes locais, a erguer a bandeira nazista no Monte
Elbrus, o pico mais elevado do Cáucaso. Atitude que, como não poderia deixar de ser,
os soviéticos não perdoaram depois que conseguiram expulsar os nazistas da URSS.
A longa duração do domínio que os russos exerceram, e provavelmente ainda
exercerão sobre o Cáucaso, encontra sua explicação na própria leitura do "Hadji
Murad" de Tolstoi. As intensas rivalidades tribais, a existência de religiões adversárias
(cristã e muçulmana, sunita e xiita), e a proximidade de duas poderosas nações islâ-
micas (a Turquia e o Irão) fez com que o fortim russo, com sentinela de plantão, fosse
visto por muitos caucasianos, particularmente os cristãos, como um mal menor, senão
como o único capaz de garantir uma certa ordem e uma relativa paz no caos histórico
em que quase sempre viveram.
Mesmo assim, que se precavessem os russos! O czar Pedro, nas suas instruções ao
príncipe Boris Kurkhistanov, o representante imperial no Cáucaso, recomendou que
lidassem bem com a tribos locais, não lhes causando "constrangimento nem rudeza".
Caso, porém, isso não funcionasse com aqueles povos orgulhosos, que fosse severo
com eles, porque, afinal das contas, como ele disse, oni ne takoi narod, kak v
Evrope!, eles, os chechenos, "não pertenciam às nações européias".
.
Com a flor do cardo despedaçada na palma da mão, Tolstoi lamentou-se. Esganara a
pobre planta para nada. Contemplando o estrago, vendo-a esmaecida, moribunda,
deu-se conta de que seu esforço só a desgraçou. De certa forma, esta é a situação do
exército russo que, em fevereiro de 2000, se adonou de Grozny e de quase toda a
Chechênia, repetindo com as armas o que o grande escritor, num equívoco, fizera,
há bem mais de um século atrás, com as mãos.

Thursday, December 13, 2007

Dica


Para quem é apaixonado por livros e não quer ficar por fora dos lançamentos, é uma boa idéia conferir o site: http://www.republicadolivro.com.br/
Lá você encontrará informações sobre os lançamentos, resenhas, revista, entre outros.

Saturday, April 28, 2007



Mundo contraditório (parte I)


Um bom pressagio/ precede um adversário/ gladiador ou legionário/ não é pario/ pra arte da guerra/o milênio encerra/ com um saldo negativo/ são ossos do oficio/ aumento da criminalidade, acumulo do vicio/ no inicio/ era o verbo/ e o verbo se fez/ destruiu outra vez/ tudo com idéias/ parábolas, teorias abstratas/ mulheres de meia idade pacatas/ destruição das matas/ existencialismo inexistente/ discurso incoerente/ consetudinariamente/ vão se criando disparidades/ em todas as cidades/ desses burgos atrasados/ desses servos mal pagos/ porém fieis/ têm-se todos aos seus pés/ eterno mujahideen Radamés/ ao invés/ de seguir a tendenciosa tendência de moda/ ciclicamente como nossa sublime invenção,a roda/ ninguém denuncia que aqui Deus é uma pistola/ uma Taurus cromada/sem uma arma você não é nada/ porque nossa capacidade de dialogar não é utilizada/ sendo assim todos somos ignorantes/ medíocres infames/ que buscam a paz inexistente/ pois acreditam veemente/ nos que falam, falam, falam/ os que vendem munição, mas nunca atacam/Falem do islamismo/ sem confundir com radicalismo/os filhos de Ismael sofrem racismo/e isso os sociólogos não falam/ quando uma criança morre de fome eles se calam/ eles querem um país perfeito/ e usam um linguajar rebuscado pra causar efeito/ o presidente eleito/ é um boneco fantoche/ o filosofo que foge/ corre em direção ao saber/ sem saber ao certo o porque/ o que nós temos que ver?/passar e rever?/ pra rever o nosso conceito/ por que civis inocentes morrerem é aceito?/ oh meu Deus onde estará esse cruel defeito/ que os imperialistas chamam de pequeno deslize/ o advento da guerra/ sangue inocente encharca a terra/ mas só a guerra traz a morte digna/ entreguem para a minha mãe a minha insígnia/ pois eu sou mais um combatente/ na verdade todo mundo defende/ algum ponto de vista/ que se choca em alguma pista/ nessa eterna busca de temas/ que denunciam problemas/ sociais, morais, existenciais/ instituições penais/ métodos de tortura totalmente ilegais/ aplicados com intuitos meramente formais/ quem estará por traz/ dessa podridão/ estágio de quase que total escravidão/ manipulação/ incredulidade gera atrito/ as crianças choram/ filhas do conflito/ na Chechênia, na Caxemira, na Somália/ a autoridade retalha/ qualquer manifestação pró/ porque nós estamos sentenciados a morrer só/ sozinho contra as adversidades do mundo/ terrorismo oriundo/ de nós mesmos/ os fins continuam a justificar os meios/ meios intoleráveis de se conseguir/ meios cruéis de persuadir/ em contra-partida esforços inteligíveis para se reagir/ permanecer, vencer, resistir/ qualidades inerentes ao ser humano/ a maior arma de destruição em massa/ todos os dogmas não passam de uma farsa/ logo esse mundo não existe/ pelo menos acredite/ que eu sou somente uma miragem/ esse mundo é somente uma passagem/ que desgraçadamente convertesse no culto a auto-imagem/ que criticidade aflorada/ seria melhor ler o ser ou o nada/ ou apertar parafusos numa obra super faturada/ ordem econômica defasada/ sistema corruptor ou corruptível?/ a ordem natural autera-se conforme o nível/ de evolução que é aplicado/ o fruto do pecado/ não abriu respaldo/ a gente inocente/ anarquista descontente/ talvez seja o que mais cresce por aqui/ rir, sorrir/ algo a mais para se construir/ no dia de descansou/ o homem pela primeira vez discursou/ sobre a importância da guerra/ vencido em primeira instancia/ pela primeira vez as armas interromperam a infância/ lancem-se ao mundo, façam com que saibam/ como eles nos tratam/ a história do homem se confunde com a historia da tirania/ e a hipocrisia, a muito é um traço psicológico/ o que é lógico?/ nessas semelhanças rascunhadas para fora/ desses micro-poderes usados agora/ ler e conter/ tecer a estrada do saber/ pra fins pacíficos/ que culminam em interesses atípicos/ aos tiranos/ amor, versar sobre os poetas urbanos/ nossos planos/ são causas atômicas/ desses intelectuais preocupados com as crônicas/ de nada adianta pensar/ se você não vai mudar/ de Marx a Osama/ de Góbi ao Atacama/ todos temos sede/ sedentos, amor pela rede/ que nos aproxima, quanta distancia?/ quando eu era criança/ tudo parecia mais próximo que hoje/ porque o amanhã é tão distante/ que sofrimento constante/ ansiedade prolongada/ milênios que passam em velocidade acelerada/ enquanto o homem continua fazendo a coisa errada/ mais uma jogada/ descartem a era das mascaras/ das sinceridades raras/ o homem virou escravo do tempo/ a rasgar a paisagem urbana como o vento/ quem diria uma pitada de sarcasmo/ ninguém mais consegue tolerar/ quanto mais enfrentar/ rumo ao fim/ não cabe a mim/ o julgamento dessa tal situação/ de Sócrates a Platão/ maiêutica, não tira conclusão/ então/ voltamos ao principio/ o verbo quem diria é o meu oficio/

Saturday, March 17, 2007

"Um mundo melhor seria aquele em que todos nós, sendo razoáveis, escutássemos uns aos outros". (Tariq Ramadan. Revista Veja. 13/02/2006).



Uma discussão à cerca da Liberdade de Expressão:

Por todo o mundo, surgem cada vez mais movimentos legitimados por um poder questionável que tenta legitimar as agressões físico-psicológico-culturais contra seus desafetos. Provocando sentimentos rispidos nas populações aos quais tais agressões são veiculadas, um bom exemplo é o caso das caricaturas sobre o profeta Maomé¹. As 12 charges apareceram pela primeira vez no jornal dinamarquês Jyllands Posten, em Setembro de 2005. Que ridicularizam o profeta e insinuam que este seja o pai do terrorismo (em uma das charges o profeta Maomé é retratado portando bombas no seu turbante).

Observemos por uma ótica universal: A liberdade de expressão é um direito assegurado, pelo menos para os cidadãos de países reconhecidamente democráticos (como é o caso da Dinamarca é vários outros países europeus) onde imperam as chamadas imprensas livres, e até certo ponto "independentes". Sendo assim será que é certo fazermos caricaturas ridicularizando o credo alheio? Segundo a Wikipédia, Liberdade de Expressão é: "A liberdade de expressão é um conceito considerado freqüentemente integral nas democracias liberais modernas para eliminar a censura. O discurso livre é também apoiado pela Declaração Internacional dos Direitos Humanos, especificamente sob o artigo 19 da declaração universal dos direitos humanos e o artigo 10 da convenção européia de direitos humanos, embora esse direito não seja exercido em vários países". Porém, a mesma Wikipédia afirma: "O direito à liberdade da expressão para a maioria não é considerado ilimitado; os governos podem proibir determinados tipos prejudiciais de expressões. Sob a lei internacional, as limitações no discurso livre estão restritas à um rigoroso teste de três critérios: ser baseados na lei, perseguir um objetivo reconhecido como legítimo, e ser necessário (isto é, ter um propósito) para a realização desse objetivo".

Vamos analisar a situação e tentar legitima-lá, a legitimação do direito de expressão é baseado em:

  • Item 1º; Na proteção dos direitos e da reputação; o que neste caso me parece ser ilegítimo, pois, os muçulmanos (muito menos Maomé) não feriram nenhum direito que vigore na sociedade dinamarquesa, nem feriu sua reputação!
  • Item 2º; Proteção da ordem, da segurança nacional e do público, da saúde e da moral: Os muçulmanos não são um povo conhecido por promover a anarquia, nem veicularam ameaças ou declarações que atentassem contra a segurança nacional da Dinamarca.
  • "As opiniões variam extensamente entre povos, nações e culturas diferentes a respeito de quando a limitação do discurso livre se encontra com estes critérios". Wikipédia.

Me parece no mínimo desagradável tais caricaturas depois desta pequena analise a cerca da Liberdade de Expressão, claro que temos que levar em consideração que a imprensa dinamarquesa é livre, mas até que ponto é saudável essas brincadeiras? Vejam o que Tariq Ramadan², pensa a respeito em entrevista concedida a Revista Veja: "Caricaturas e humor dependem da realidade de cada um. Certas coisas são universalmente engraçadas, outras não. Devemos ter cuidado com aquilo em que achamos graça. Num universo de tantas referências, algumas pessoas podem não achar graça nenhuma em determinado assunto. Os muçulmanos não estão habituados a fazer piada com religião. Por outro lado, os países ocidentais estão acostumados com isso há pelo menos três séculos", (Revista Veja. 13/02/2006).

Neste caso, podemos perceber que as caricaturas tem uma conotação não somente política, mas também xenófobas, já que foram defendidas pela extrema direita dinamarquesa, veja o que diz Sven Tarp, Secretario Internacional do Partido Comunista Dinamarquês: "É sempre difícil adivinhar quais são as motivações pessoais dos que tomam decisões infelizes. E esses motivos têm, de facto, pouco interesse. O que é importante, isso sim, é o contexto histórico em que se tomam as decisões e o objectivo dos que as tomam. Sob este ponto de vista, é fácil concluir que a publicação dos cartoons faz parte de um plano promovido pela classe dominante da Dinamarca com um duplo propósito:
Dividir os trabalhadores dinamarqueses em nacionais e estrangeiros, cristãos e muçulmanos, para debilitar a sua resistência face à brutal imposição de políticas neoliberais, num momento específico em que, transitoriamente, a economia dinamarquesa é uma das mais prósperas dentro de uma economia capitalista mundial em grave crise;
Criar a imagem artificial do mundo muçulmano como inimigo para, com este argumento, enfrentar a crescente reivindicação do povo dinamarquês de retirar as suas tropas do Iraque, onde participam na ocupação ilegal encabeçada pelo imperialismo norte-americano".

"Todo homem tem direito a liberdade de opinião e expressão"³; Porém o direito de expressão deve ser exercido com bom senso respeitando as liberdades individuais (crença, opção sexual, etc) para assegurar uma sadia convivência entre os povos e uma assimilação pacifica de dogmas das várias civilizações que compõem o mundo atual. Não restringindo-o a fins meramente políticos e de segregação que servem aos interesses imperialistas e racistas de minorias radicais que deterioram toda uma convivência entre os blocos, ocidental e oriental, numa guerra onde cada qual ataca o ponto fraco do outro, e assim cria situações tão lamentáveis quanto a questão das caricaturas, liberdade com responsabilidade.

Mais Informações em:

http://www.tariqramadan.com/article.php3?id_article=579

http://pt.wikipedia.org/wiki/Liberdade_de_express%C3%A3o

http://resistir.info/europa/dinamarca_cartoons.html

http://www.bocc.ubi.pt/pag/stevanim-luiz-charges-do-profeta.pdf

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¹ Maomé - Muhammad (Meca, c. 570 - Medina, 8 de Junho de 632), líder religioso e político árabe. Segundo a religião islâmica, Muhammad é o mais recente e último profeta do Deus de Abraão. Como figura política, ele unificou várias tribos árabes, o que permitiu as conquistas árabes daquilo que viria a ser um império islâmico que se estendeu até à Europa (incluindo Portugal).Não é considerado pelos muçulmanos como um ser divino mas sim um ser humano; contudo, ele é visto como um dos mais perfeitos entre os seres humanos.

2 Tariq Ramadan. Acadêmico suíço neto do egípcio Hassan al-Banna, fundador da Irmandade Muçulmana, o primeiro movimento de renascimento islâmico, seu pai, Said, um dos fundadores da Liga Mundial Islâmica, foi expulso do Egito e se refugiou na Suíça. Autor de vinte livros que projetam sua visão reformista de um mundo muçulmano integrado aos valores liberais do Ocidente, é professor de filosofia européia e estudos islâmicos no Saint Antony’s College, em Oxford, na Inglaterra.

³ Artigo 19º da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Tuesday, March 13, 2007

Al Shifa - Cartum, Sudão: 20 de Agosto de 1998.









Complexo farmacêutico bombardeado por forças americanas em retaliação aos atentados sofridos nas embaixadas norte-americanas no Quênia e na Tanzânia; com a alegação de que o complexo químico supostamente estaria fabricando armas químicas (fato nunca confirmado). "O ditador sudanês Omar el-Bashir alegou que bombardeio a seu território havia sido motivado para encobrir o escândalo do affair Monica Lewinsky", (Revista IstoÉ: 26/08/1998).

O intelectual Noam Chomsky comenta em um dos seus livros o caso Al Shifa: "Qual teria sido a nossa reação se bin Laden tivesse destruído metade dos suprimentos farmacêuticos dos EUA, bem como as instalações indispensáveis para repo-los? Podemos imaginar facilmente, apesar de a comparação ser injusta: as consequências foram muito mais graves no Sudão. Deixando isso de lado, se os EUA ou Israel, ou a Inglaterra, fossem o alvo de tal atrocidade, que reação teriam?" (Chomsky, Noam. 11 de Setembro). Chomsky continua. "logo após os atentados de 11 de setembro. Observei na ocasião que o número de vítimas do "crime horrendo" de 11 de setembro, cometido com "absoluta e medonha crueldade" (citando Robert Fisk), poderia ser comparado às consequências do bombardeio que Clinton dirigiu contra as instalações de Al-Shifa, em Agosto de 1998." (Chomsky, Noam. 11 de Setembro).

Os EUA vem desde a guerra fria perpetrando e financiando o terrorismo internacional além do fato de ser "o único país do mundo a ser condenado pela Corte Internacional pela acusação de terrorismo" (Chomsky, Noam, 11 de Setembro).

Dom Michel Sabbah, patriarca latino de Jerusalém, afirmou à Rádio Vaticano: "Todas estas ações de força e de violência têm consequências negativas para o mundo todo. Por isso, não existe mais Oriente ou Ocidente, há uma potência no mundo que é os Estados Unidos, que é a mais forte em qualquer setor, e onde encontra resistência intervém. Todos querem eliminar o terrorismo; mas deste jeito só se acaba favorecendo-o", (Via della Stazione di Ottavia, 9500165. Roma; Italia. ZENIT).

O povo pobre do Sudão, vitimas da miséria e das doenças que assolam o país sucumbiram pela politicagem inescrupulosa do governo norte americano, por quê? Quais crimes aquela gente tão pobre e carente do básico cometeu para padecerem uma perda que para eles foi de proporções gigantescas? Que guerra contra o terror é esta? Que para destrui-lo o fortalece, que quando coloca-o como bode expiatório trai à si mesmo, que "guerra" injusta!